quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O dia de captações

 
Toda a minha vida fiz desporto, mas só fiz captações por duas vezes. Da primeira foi para o Estoril, futebol de 11, devia ter aí uns 14 anos. Estava meio perdido - ainda jogava ténis, mas tinha sido contactado por um antigo treinador de futebol para aparecer lá - e só uns dias depois, quando vi os outros jogadores a serem "cortados" é que percebi mais ou menos a importância daquilo.
 
A segunda vez que fiz captações foi há um ano atrás, para a equipa de futebol americano onde jogo hoje, os Crusaders. E a coisa foi diferente. Já há algum tempo que não sentia a atmosfera de balneário, de entrar para uma equipa já formada, com relações vincadas entre a maioria dos jogadores. Para além disso, as provas eram provas a sério: estavam lá quatro treinadores americanos que nos iam cornometrando e avaliando ao longo das várias estações de exercícios. Tinha dois dias para provar que merecia entrar naquela equipa.
 
Já antes me tinha apercebido de que as captações são um momento especial no percurso desportivo de uma pessoa, e senti-o mais ainda nesse dia. As captações são um tipo de competição muito diferente de tudo o resto no desporto.
 
 
  

TU CONTRA O MUNDO

Nas captações estamos sozinhos, tanto no sentido de provavelmente não conhecermos ninguém como no de ser uma competição entre nós e os outros. Não é como nos jogos do campeonato onde há uma equipa (mesmo em desportos individuais, como o ténis, fazemos parte de uma grupo que nos apoia e nos prepara para os jogos), não há um treinador a dar uma palestra de motivação antes, provavelmente não haverá um colega que te dá uma palmada nas costas e te diz para continuares (e se houver, ele não sabe o teu nome e provavelmente não se vai lembrar de ti no dia seguinte). Tens apenas alguns dias para te destacares do resto da maralha, para que comecem a reconhecer a tua cara. Não te vão escolher porque vieste com um grupo porreiro, é a tua habilidade que conta.
 
 

 

MOSTRA-TE

As captações costumam durar pouco tempo, pelo menos em desportos amadores ou semi-amadores. Não há tempo de evolução, não vais poder mostrar nenhum skill que tenhas aprendido naquele tempo. Por isso a única coisa a fazer é mostrar aquilo que sabes. No meu caso foi simples: fui guarda-redes antes de ir para o futebol americano, e sabia que conseguia agarrar uma bola. Não me dei muito bem nas provas físicas, mas mantive-me concentrado até às provas de skills, e mostrei aquilo que sabia fazer. Se alguém mostrar ter uma capacidade sólida para qualquer coisa específica - seja uma caracterísitca física, mental ou de habilidade - isso diz aos treinadores que podem pegar naquele jogador e trabalhar à volta disso.
  

BE A GOOD SPORT

A tua forma física não vai ser ideal no dia das captações, e ninguém espera que seja. Vai custar fazer todos os exercícios e acompanhar os jogadores da equipa que já têm experiência e capacidade. E ainda assim vão pedir-te para te chegares à frente, para mostrares que tens vontade de lutar por um lugar na equipa e nos titulares. Faz isso, chega-te à frente. Também é provável que te sintas um bocado perdido no meio de uma equipa com hábitos (de treino, de relações) já enraizados que não conheces. Será pior ainda se for num desporto do qual sabes muito pouco, vais sentir-te um "nabo". Aceita isso como normal, não te retraias, mostra que queres realmente aprender.  
 

ESCOLHE UM "MESTRE"

Uma das melhores dicas que posso dar é esta: desde o primeiro dia tenta identificar alguém para seguires. Nos Crusaders isso faz parte das regras - todos os rookies têm de escolher o seu veterano, alguém com quem possam aprender sobre o jogo, sobre a equipa, e que tem a obrigação de, de alguma forma, olhar por eles, saber porque não foram ao treino, etc. Mas isso serve para qualquer desporto: escolhe alguém com capacidade de liderança, com experiência, com valores que reconheças como bons (força de vontade, trabalhador, responsável, habilidoso, etc.) e, de preferência, que jogue na mesma posição que tu ou com quem partilhes características, para que te possa ensinar.
 
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Agora que estou no meu segundo ano na equipa, esperei ansiosamente pelo dia das captações, quase tanto como no ano em que era eu que prestava provas. Queria ver os novos jogadores, tentar perceber quem tem potencial, quem é que posso ensinar, acolher na equipa. Mostrar aos rookies as minhas capacidades, fazê-los ver com quem vão competir por um lugar a titular. Também era dia de captações para mim.
 
 

 

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